terça-feira, 28 de julho de 2009

Esmagados pela graça

Ricardo Gondim

Li “Os Miseráveis” e me assombrei com a genialidade de Victor Hugo. O personagem central da narrativa é Jean Valjean, um egresso das galés. Impressionei-me como Victor Hugo construiu a história desse homem bom que lutou contra circunstâncias difíceis e gente perversa. Livre há quatro dias, Jean Valjean não encontrava quem o acolhesse devido ao seu passado. Sua fama o prejudicava. Cansado, com frio e faminto, precisava descansar. Sabendo que o prenúncio de chuva o mataria, Valjean procurou um albergue. Em vão. Até os cachorros o enxotavam. Desesperado, encontrou uma pessoa que lhe indicou a casa do bispo da cidade, D. Bienvenu. A anônima samaritana disse que o santo homem de Deus lhe daria hospedagem.
Quando bateu na porta da casa do bispo, Jean Valjean não escondeu sua vida pregressa. Mesmo assim, D. Bienvenu o hospedou, convidou para dividir a ceia e ainda lhe forneceu bons lençóis para a noite de sono. O ex-presidiário, entretanto, ainda padecia os efeitos de uma vida marcada pelo estigma do crime. Valjean ainda estava assustado com o mundo; era como um animal encurralado que precisava se defender. Valjean então resolveu fugir da casa do bispo pela madrugada, roubando os talheres de prata. Contudo, não conseguiu ir muito longe. Logo os guardas o pegaram, reconheceram as insígnias do bispo na prataria e o conduziram até a casa que lhe acolhera para ser reconhecido antes de ser devolvido ao cárcere.
Surpreendentemente, D. Bienvenu não só o perdoou como o liberou. Tratou-o com deferência e lhe fez uma pergunta desconcertante: “Estimo tornar a vê-lo. Mas eu não lhe dei também os castiçais? São de prata como os talheres e poderão render-lhe bem duzentos francos. Por que não os levou também”?
Diante do gesto nobre de não levar em conta o roubo e ainda oferecer castiçais, Jean Valjean “arregalou os olhos e contemplou o venerando Bispo com tal expressão que nenhuma língua humana poderia descrever”.
O perdão e o amor gratuito de D. Bienvenu impactou Valjean de tal maneira que sua vida mudou para sempre. O bispo o livrara da acusação da lei, mas o tornava, daí em diante, escravo da bondade. A gentileza, ou a graça, esmagou Jean Valjean. Ele nunca mais pôde ser igual. Ao liberá-lo, o bispo o fez servo de um gesto de grandeza.
Paulo afirmou em Romanos que Deus conduz as pessoas ao arrependimento por sua bondade. “Ou será que você despreza as riquezas da sua bondade, tolerância e paciência, não reconhecendo que a bondade de Deus o leva ao arrependimento?” (Romanos 2.4).
Portanto, Victor Hugo acertou quando fez de um pastor de almas a encarnação da graça de Deus. Só o amor tem o poder de transformar a vida de qualquer pessoa. Ninguém muda com ameaças; os arrazoamentos doutrinários são impotentes para convencer do que é certo. Jesus ensinou que seus discípulos seriam conhecidos pelo amor e não por uma teologia correta. “Com isso todos saberão que vocês são meus discípulos, se vocês se amarem uns aos outros” (João 13.35).
Mesmo quando busca arrependimento, Deus não deprecia seus filhos; quando quer humilhar, prefere exaltar; quando deseja constranger, deixa de lado o rigor da lei e opta pelo elogio. Ao invés de ralhar, Deus simplesmente recebe o pecador com festa e aposta no seu futuro. Foi assim que Jesus descreveu o amor do Pai pelo Pródigo. O filho voltava para casa ainda sujo, sem sequer mostrar obras dignas de arrependimento, mas o pai apressado o abraçou, colocou anel no dedo, calçou os pés e o agasalhou com uma capa. O rapaz havia ensaiado um pequeno parágrafo pedindo para ser recebido como “um dos empregados” da casa, mas o velho o interrompeu e deu ordens para que preparassem a festa do bezerro cevado. A partir daquele dia, o filho se tornou escravo da bondade. A generosidade com que foi recebido, mesmo depois de ter se comportado com rebeldia causou um impacto tão grande que o rapaz nunca mais poderia voltar a ser o mesmo.
O mundo está cansado e parece ir de mal a pior. Fomes, guerras, pestes inundam o dia a dia e as pessoas precisam sentir-se amadas. O Evangelho traz a mais alvissareira notícia: "Deus não fecha portas, mas continua a receber os pecadores para restabelecer-lhes a dignidade, sem ameaçar com castigo. Deus gosta de acolher e honrar; dignificar e libertar; desobrigar e gerar compromisso.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Mundo Moderno

Silvio Amarante

Mundo moderno, marco malévolo, mesclando mentiras, modificando maneiras, mascarando maracutaias, majestoso manicômio. Meu monólogo mostra mentiras, mazelas, misérias, massacres, miscigenação, morticínio – maior maldade mundial.
Madrugada, matuto magro, macrocéfalo, mastiga média morna. Monta matungo malhado munindo machado, martelo, mochila murcha, margeia mata maior. Manhãzinha, move moinho, moendo macaxeira, mandioca. Meio-dia mata marreco, manjar melhorzinho. Meia-noite, mima mulherzinha mimosa, Maria morena, momento maravilha, motivação mútua, mas monocórdia mesmice. Muitos migram, macilentos, maltrapilhos. Morarão modestamente, malocas metropolitanas, mocambos miseráveis. Menos moral, menos mantimentos, mais menosprezo. Metade morre.
Mundo maligno, misturando mendigos maltratados, menores metralhados, militares mandões, meretrizes, maratonas, mocinhas, meras meninas, mariposas mortificando-se moralmente, modestas moças maculadas, mercenárias mulheres marcadas. Mundo medíocre. Milionários montam mansões magníficas: melhor mármore, mobília mirabolante, máxima megalomania, mordomo, Mercedes, motorista, mãos… Magnatas manobrando milhões, mas maioria morre minguando. Moradia meia-água, menos, marquise.
Mundo maluco, máquina mortífera. Mundo moderno, melhore. Melhore mais, melhore muito, melhore mesmo. Merecemos. Maldito mundo moderno, mundinho merda.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Justiça Social

João Alexandre

A gente não precisa ser milionário
A gente só quer um justo salário
A gente tem que levar fé no trabalho aqui
A gente não precisa criar quizumba
A gente quer sinceridade profunda
Alguém vai ter que por moral nessa casa aqui
Se deu muito feijão, falta no prato
Se deu muita batata, cadê o ensopado?
Queremos a fatia de um bolo que a gente fez!
É só distribuir a coisa direito
E repartir o lucro também com o sujeito
Que quase se suicida no fim do mês.
É hora de se procurar a saída
Todo esse egoísmo acaba com a vida
Quem dera que a gente ouvisse o que Cristo diz...
É hora de procurar o que Cristo diz.

Pra cima Brasil

João Alexandre

Como será o futuro do nosso país?
Surge a pergunta no olhar e na alma do povo.
Cada vez mais cresce a fome nas ruas, nos morros,
Cada vez menos dinheiro pra sobreviver.
Onde andará a justiça outrora perdida?
Some a resposta na voz e na vez de quem manda.
Homens com tanto poder e nenhum coração,
gente que compra e que vende a moral da nação.
Brasil olha pra cima, existe uma chance de ser novamente feliz!
Brasil há uma esperança!Volta teus olhos pra Deus, Justo Juiz!
Como será o futuro do nosso país?