segunda-feira, 20 de setembro de 2010

dias difíceis

O que está acontecendo comigo? Sinto-me tão fraco agora? O que faço?
Esse furacão vem devastando construções erguidas há anos.
Sem nenhuma piedade vem destruindo estruturas outrora tão sólidas quanto às montanhas. O pior disso tudo é que minha vida está entrelaçada nessas estruturas, nestas construções. Se elas caem, eu não posso permanecer firme, por isso, me sinto desajustado, vulnerável, instável, perdido, confuso, indefinido... Quem poderia me ajudar nesta situação?
Onde está minha casa, onde eu guardava tudo o que precisava? Procuro o que preciso e não encontro. Onde está o meu quarto onde podia deitar e descansar, olhar o céu pela janela. Não há céu nem janela mais. Não há mais casa, nem quintal, não há nada nem lugar onde eu possa me sentir em casa. Incrível, nunca me senti assim. Em lugar nenhum, é justamente assim que me sinto, em lugar nenhum.
Pensando bem, é pior que isso. Sinto-me em terreno inimigo. Esse lugar não é nada amistoso. Meus companheiros são abatidos diariamente, volta e meia tenho que carregar um ferido quase morto, nas costas, ate que ele chegue onde possa ser tratado.
Os piores inimigos usam os mesmos uniformes que eu, assim fica difícil. Também sou alvejado o tempo todo, a dor é quase insuportável, me sinto muito fraco.
Sinto-me em país estrangeiro. Parece que não falo a mesma língua que eles. Também não quero falar essa língua nunca, não quero aprender por mais fácil que pareça. Não entendem os que fazem, entendem sim, os que falam como se faz, os que falam que fazem, os que falam, falam e falam. Essa língua é falsa, pois não reflete a realidade.
Sinto-me no Ártico. É tão frio aqui, ninguém sente nada. A indiferença é o sentimento mais comum. Não sentem quando pisam, estão dormentes e endurecidos pelo frio.
Sinto-me estranho, longe, mal, só, enfermo, cansado... Sem esperança...
20/09/2010 Heber de Paula Pereira